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Investimento dos países do euro no Brasil cresce 120% em 2011

por Ilton Caldeira

A crise aguda de endividamento nos países da União Europeia tem ampliado o volume de recursos vindos daquela região em direção ao Brasil, na forma de Investimento Estrangeiro Direto (IED), em busca de melhores opções de retorno e proteção contra a turbulência financeira que afeta o bloco econômico.
Levantamento elaborado com base em dados do Banco Central, mostra que no período de janeiro a outubro de 2011 houve um crescimento de 120% nos recursos investidos no Brasil pelo grupo de 17 países que utilizam o euro como moeda única. Nos dez primeiros meses do ano foram computados pelo BC um total de US$30,869 bilhões em Investimentos Estrangeiros Diretos realizados pelos países do bloco. No mesmo período, em 2010, esse volume totalizou US$ 14,008 bilhões.

Fugindo da crise na Europa


A forte entrada de recursos externos no País, principalmente da Europa, está ligada diretamente ao bom desempenho da economia brasileira, que, apesar da recente desaceleração, ainda cresce mais que as chamadas economias maduras como a zona do euro, os Estados Unidos e o Japão.
Parte desse movimento de fortes investimentos no Brasil também está relacionado com as obras de infraestrutura para o País realizar a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016 no Rio de Janeiro.

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Entre os destaques, a lista de países que mais investiram este ano no Brasil tem a Holanda na liderança com investimentos totais de US$ 15,8 bilhões este ano até outubro, uma alta de 324% na comparação com o mesmo período de 2010.
Na segunda posição está a Espanha, com US$ 7,5 bilhões em investimentos no Brasil em dez meses, com um aumento de 761% em relação ao período de janeiro a outubro do ano passado. Esse movimento é explicado em grande parte pelo fato de o país ser um dos mais afetados pela crise e amargar a maior taxa de desemprego da Europa, que atinge 20,7% da população em idade produtiva. Com isso, as empresas daquele país procuram regiões com maior potencial de crescimento e farto mercado consumidor.
Em termos percentuais, as maiores variações de 2010 para 2011, observando o período de janeiro a outubro, foram verificadas nos investimentos diretos feitos pela Finlândia (5.400%), Irlanda (1.944%), Chipre (870%), Espanha (761%) e Bélgica (691%).
Esse aumento do investimento da zona do euro no Brasil, segundo o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) Maurício Santoro, é um sinal de que a atual crise será longa. “As empresas daquela região precisam seguir com seus planos de expansão e crescimento de receitas e lucros. Se não conseguem crescer em seus mercados de origem procuram alternativas”, disse.
“Muitas empresas europeias apostam na força do mercado doméstico do Brasil. Essa estratégia de investimento é um movimento de empresas e não de governos, muito em função das oportunidades com o pré-sal, a Copa do Mundo, as Olimpíadas, além das obras de infraestrutura e de habitação dentro do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)”, acrescentou.
O Banco Central não divulga os dados conjuntos por país de origem e a área de destino dos investimentos no Brasil para não comprometer o sigilo de estratégias de negócios de grandes empresas multinacionais com alto volume de recursos aplicados no País.
Mas setores como energia elétrica, comércio varejista, produção de alimentos, metalurgia, petróleo e gás, farmacêutico, educação, serviços financeiros e bancários, tecnologia, transportes, infraestrutura aeroportuária e telecomunicações estão no foco dos investidores estrangeiros.

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Para Antonio Corrêa de Lacerda, professor doutor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), essa ampliação dos investimentos da zona do euro no Brasil embute uma contradição, em termos, porque em tempos de crise o natural seria uma redução e não o aumento desse movimento. “Mas essa turbulência na Europa é uma crise de governos e não das empresas. O investimento cresce porque as companhias precisam reagir, já que a Europa apresenta pouca perspectiva”, disse.
“Investir nos Estados Unidos parece fora de questão no momento. Na China, muitas empresas já estão posicionadas e com uma exposição significativa. Então é natural que os investimentos acabem indo para regiões com perspectivas positivas de crescimento como o Brasil”, acrescentou.
O Brasil é a sétima economia do mundo, tem sinais de desaceleração, mas deve crescer este ano cerca de 3% sobre uma base forte de 7,5%, que foi o PIB em 2010.
“Para 2012, as perspectivas apontam para um crescimento também na faixa de 3%, que é maior que o avanço das economias maduras. Isso significa que a economia brasileira pode registrar uma expansão entre 13% e 14% no acumulado em três anos. A Europa vai demorar muito, talvez mais de dez anos, para oferecer uma possibilidade parecida com essa”, disse Lacerda.
De acordo com os dados do Banco Central, no ano, de janeiro a outubro, ingressaram no País US$ 56,001 bilhões em IED, o maior resultado da série histórica em 64 anos. Esse desempenho é 90,8% maior frente ao mesmo período do ano passado, quando o investimento estrangeiro totalizou US$ 29,345 bilhões.
O investimento realizado pelos estrangeiros no Brasil é importante para que o País possa equilibrar suas contas financiando o déficit com o setor externo verificado nos últimos anos. O País financia este déficit com a entrada de dólares que ingressam na forma de investimentos estrangeiros em setores produtivos.
Mas o outro lado dessa mesma moeda é que a elevação na entrada de dólares no Brasil derruba a cotação da divisa e valoriza o real, aprofundando ainda mais o rombo nas contas externas com o aumento das importações, a elevação gastos de turistas brasileiros no exterior e a remessa de lucros de empresas estrangeiras instaladas no Brasil para as suas matrizes fora do País.

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Perspectiva de emprego no Brasil é melhor

Os brasileiros sempre formaram a maior comunidade estrangeira em Portugal. Porém, o número disparou após o Acordo Lula, que permitiu a regularização de aproximadamente 20 mil pessoas entre 2005 e 2008. Hoje, são 116 mil moradores legais, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), mas estima-se que exista quantidade semelhante de clandestinos.

Desemprego cruzado

Enquanto o desemprego cai no Brasil, o índice sobe em Portugal (ver gráfico). Depois de uma primeira onda de imigração qualificada na década de 1970, Portugal começou, a partir das décadas de 1980 e 1990, a ser procurado por brasileiros com menos estudo e capacitação profissional, segundo o estudo Vagas Atlânticas, feito por Universidade de Coimbra, Universidade Técnica de Lisboa (UTL) e Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE), divulgado em 2009.
Em 2009, quando foi feito uma pesquisa com 1,4 mil brasileiros, um em cada cinco trabalhadores exercia ocupações não-qualificadas. Isso apesar de 60% terem o ensino médio concluído.
Para Carolina Nunan, que pesquisa a migração brasileira na UTL, o perfil não tende a se alterar no curto prazo, já que a baixa perspectiva de emprego em Portugal atinge tanto ocupações qualificadas como não-qualificadas. “A perspectiva [de trabalho] é muito melhor no Brasil, tanto para o pintor, como para a cuidadora de idosos quanto para médicos e engenheiros”, diz.

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Em meio à crise, portugueses tentam ganhar a vida no Brasil e em Angola

Rita escolheu o Brasil, mas seu pai Homero gosta mais de Angola: a família Costa resume os destinos preferidos de vários portugueses que deixam seu país fugindo de uma grave crise financeira.
"Em Portugal, os próximos anos serão muito duros. Não consigo encontrar um trabalho com um salário que permita que eu me sustente", afirma a jovem que não teve outra escolha a não ser viver na casa de seus pais em Lisboa.
"Estou cheia de amigos na mesma situação, que já saíram ou que estão prestes a sair. Eles até me pedem para distribuir seus currículos quando eu chegar ao Brasil", disse ela.
Como Rita, cada vez mais pessoas deixam o país. Oficialmente, seu número chegou a cerca de 30.000 em 2010, mas, de acordo com Rui Pena, coordenador científico do Observatório de Emigração, este número pode ser superior a 70.000 para uma população economicamente ativa de pouco mais de 5 milhões de pessoas.
Atualmente recebendo ajuda financeira internacional, Portugal segue os planos de austeridade desde 2010 e as perspectivas são desanimadoras: em 2012 a economia deve se contrair em 2,8% do PIB, e o desemprego atinge o nível recorde de 13,4%, afetando mais os jovens.
Neste contexto, a emigração surge para muitos como uma escolha evidente, sobretudo, em um país onde este fenômeno está estreitamente ligado a sua história.

Salários maiores

Depois de França, Bélgica e Luxemburgo nos anos 60 e 70, as ex-colônias portuguesas, com Angola e Brasil à frente, estão entre os destinos preferidos dos portugueses, não apenas em razão de afinidades culturais entre países lusófonos, mas também por sua vitalidade econômica.
"Estes países oferecem hoje oportunidades que não se encontra mais em Portugal: melhores condições de trabalho, salários muito superiores", multiplicados às vezes por três ou quatro, explica à AFP Herminio Santos, autor de um guia para aqueles que desejam viver em Angola.
"Em Angola, os setores que recrutam são muitos. Eles vão da hotelaria ao mercado financeiro, passando pelo de tecnologia da informação e de gestão. O 'know-how' português é muito apreciado", ressalta.
A economia angolana em plena expansão, principalmente graças ao petróleo, deve registrar no próximo ano um crescimento de 12% depois de vários anos de uma guerra civil que chegou ao fim em 2002.
A grande maioria dos portugueses que partem para Angola já tem contrato de trabalho, o que facilita a obtenção do visto. Já para o Brasil, eles não precisam de visto para viagens turísticas e podem buscar trabalho com mais facilidade.
"Sobre o visto de trabalho, eu me informarei quando chegar ao Brasil", afirma Rita, decidida a viver no país para se beneficiar do boom econômico de um país que sediará a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Seu pai, Homero Costa, foi o primeiro a encorajá-la. "Eu a apoio totalmente!", disse este homem de 61 anos, empresário do setor imobiliário, que pretende fechar sua empresa de 80 funcionários para emigrar também.
"Talvez para Angola, que eu já conheço", afirma antes de ressaltar que em Portugal "não haverá mais muitos investimentos, nem grandes obras públicas nos próximos anos!"
De acordo com dados recentes do Observatório de Emigração, em 2009 mais de 23.700 pessoas emigraram para Angola, onde já vivem cerca de 100.000 portugueses. No Brasil, eles são estimados em por volta de 213.000.
O Brasil atrai uma mão de obra essencialmente qualificada, assim como muitos jovens em busca de um primeiro emprego. Os arquitetos e os engenheiros estão entre os mais solicitados.

via AFP - 21/11/2011

Crise provoca inversão de papéis e Portugal pede apoio a Angola

Numa inversão de papéis em relação à época colonial, o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, disse que seu governo olharia "muito favoravelmente" para um possível investimento de Angola no programa português de privatização de ativos de 7 bilhões de euros. "Queremos aproveitar este momento de crise econômica e financeira para fortalecer nossas relações bilaterais em diferentes setores de nossos países", disse Passos Coelho em Luanda, onde se reuniu com o presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Logo após proclamar sua independência de Portugal em 1975, Angola enfrentou uma guerra civil que acabou somente em 2002. Nesses últimos nove anos, o país africano vem reconstruindo sua infraestrutura, impulsionado pela indústria petrolífera. No ano que vem, deve crescer 12%, enquanto para Portugal a projeção é de uma contração de 2,8% do PIB. "Estamos cientes da dificuldade que o povo português tem enfrentado recentemente para pôr fim à crise", disse o presidente angolano.
Segundo a agência de notícias local Angop, Santos afirmou que seu país está pronto para ajudar o ex-colonizador. "Uma reversão de papéis dessa magnitude no período pós-colonial não tem precedentes", disse ao Financial Times o diretor do Instituto de Relações Internacionais e Segurança Português, Paulo Gorjão. "O desafio é tornar isso mutuamente benéfico para os dois países." A crise tem levado muitos portugueses a emigrar para sua ex-colônia.
De acordo com o observatório de emigração de Portugal, o número de portugueses em Angola saltou de 21 mil em 2003 para 91,9 mil no ano passado, enquanto o de angolanos em Portugal era de 26,5 mil em 2009, mil a menos que no ano anterior. Além disso, companhias angolanas possuem fatias acionárias importantes em diversas grandes empresas e bancos portugueses. É o caso da petroleira Sonangol, principal acionista do Millenium BCP, um dos maiores bancos de Portugal. Na visita, Passos Coelho disse que não faria objeção caso a empresa queira comprar também uma fatia na portuguesa Galp Energia.

via Valor Online - 18/11/2011

Portugueses 'redescobrem' o Brasil atrás de oportunidades profissionais

Estudos em consultoria em golfe já haviam levado o português Miguel Palhota à Espanha e aos EUA, mas ele nunca imaginou que encontraria suas melhores oportunidades profissionais no país do futebol. No Brasil desde janeiro, Miguel e seu irmão, Paulo, que chegou há três meses, estão entre os portugueses que desembarcaram aqui atraídos por um mercado de trabalho aquecido, num momento de grave crise econômica em Portugal.
“Nunca pensei em vir trabalhar na América do Sul; sempre achei que meu caminho seria trabalhar em Portugal, em outro país europeu ou nos Estados Unidos", diz Miguel, de 30 anos, à BBC Brasil.
"(Mas) grande parte dos investidores está olhando para o Brasil como destino de investimentos. Isso pode abrir oportunidades que no momento não temos em Portugal."
Depois de se formar em educação física em sua terra natal e cursar consultoria em campos de golfe na Espanha e nos Estados Unidos, ele acabou se tornando gerente de um clube de golfe em São Paulo. "Atualmente, o Brasil pode me oferecer o que Portugal não pode: estabilidade", diz ele.
Seu irmão Paulo, geógrafo de 27 anos, está trabalhando em uma operadora de turismo. "O Brasil nos dá uma oportunidade de evoluir e crescer, e ainda há a vantagem de, em breve, podermos presenciar a Copa do Mundo (de 2014) e as Olimpíadas (de 2016)", diz. "A piadinha sobre portugueses é inevitável, mas a receptividade brasileira é maior do que isso."

Crise e adaptação

Um dos países mais afetados pela atual crise europeia, Portugal precisou recorrer neste ano a um pacote de resgate financeiro externo para conseguir pagar suas dívidas e enfrenta riscos de recessão econômica em 2012.
Os altos índices de desemprego e as duras medidas de austeridade – exigidas pelos credores europeus em contrapartida ao pacote de resgate – têm aumentado os impostos, cortado benefícios e estimulado parte da população a buscar oportunidades fora do país.
O Brasil é um destino lógico por conta da expansão de sua economia e do mesmo idioma, o que facilita o processo de adaptação. O português Salvador Simões Almeida, de 27 anos, morou pela primeira vez no Brasil em 2006, quando ainda era estudante. Hoje trabalha como corretor de um banco de investimentos em São Paulo.
"Em Portugal, as conversas, as histórias que me contam e as notícias giram em torno da crise, e por aqui o clima é totalmente oposto", afirma. Segundo Almeida, os salários que as empresas portuguesas se propõem a pagar não são bons para pessoas bem qualificadas, ao contrário do que está acontecendo no Brasil. "Todos os dias eu recebo currículos de amigos que querem vir para cá", diz.
Além do idioma, "o bom clima do Brasil e atmosfera alegre atraem estrangeiros ao país", afirma o headhunter Robert Wong. "O Brasil é um país em crescimento, mas há falta de especialistas, especialmente em áreas técnicas, informática e até marketing. Para pessoas com esse perfil, vir para cá é uma grande oportunidade."
Para ele, há espaço para a vinda de estrangeiros sem que se crie um clima de "disputa por empregos" com a população local - "se o brasileiro souber entender que (o estrangeiro) vem para complementar, e não para agredir", agrega.

Caminho de volta

Wong destaca que o bom momento político e econômico do Brasil também tem trazido brasileiros de volta ao país – alguns deles vindos justamente de Portugal.
A publicitária Larissa Kitahara, 28 anos, morou quatro anos em Portugal e voltou em dezembro de 2010.
"Percebi que lá dificilmente haveria uma projeção de crescimento salarial ou profissional, o que me desmotivava", conta. "No Brasil, vejo como as pessoas estão numa fase mais empreendedora, porque têm ambição e pensam em tirar proveito dessa situação boa."
via BBC Brasil - 16/12/2011

Crise na Espanha empurra imigrantes latino-americanos para o Brasil

Entre 2003 e 2007, a Espanha recebeu dezenas de milhares de imigrantes, mas a crise econômica que persiste no país está alterando o fluxo migratório. Sem emprego no presente e sem perspectivas para o futuro, os estrangeiros procuram saídas em outros lugares. E o Brasil virou meta para os latino-americanos de baixa formação.
De acordo com quatro relatórios que investigam as respostas dos imigrantes diante da crise, o Brasil aparece entre os três destinos preferidos de sul-americanos hispânicos (junto com Estados Unidos e Argentina) como opção para conseguir emprego.
Uma pesquisa da agência de empregos Randstad revelou que 65% dos imigrantes ilegais na Espanha estão pensando ou decididos a trocar a Europa por outro mercado se não encontrarem trabalho até 2012.
Os estudos antecipam um fluxo que já pode ter começado. Em 2010, pela primeira vez nos últimos 35 anos, a Espanha registrou uma taxa de saída de população ativa maior do que a de entrada.
No ano passado, 48 mil imigrantes chegaram e 43 mil estrangeiros retornaram aos seus países de origem, mas 90 mil espanhóis também foram morar no exterior.
O ritmo de redução é tão vertiginoso que em cinco anos o fluxo de chegada pode ser praticamente nulo. Pelas previsões da Fundação de Estudos de Economia Aplicada, se a crise se mantiver como agora, em 2014 chegariam apenas 3 mil imigrantes.

Saídas 

Josep Oliver, professor de economia da Universidade Autônoma de Barcelona e um dos autores do Anuário de Imigração da Espanha, do Ministério do Interior, disse à BBC Brasil que “80% dos imigrantes não têm outras saídas além do aeroporto rumo a mercados com melhores opções, como o Brasil, que oferece oportunidades sólidas”.
A pesquisa Mobilidade Laboral, da Randstad, indica que a Espanha perdeu interesse para o trabalhador estrangeiro de baixa formação.
A razão é o perfil destes imigrantes, cujos currículos se limitam a ofícios relacionados a áreas que não se reativam, como serviços e construção.
O setor de construção foi precisamente o que detonou a crise de desemprego. De 2008 a 2010 quebraram mais de 200 mil empresas do ramo, que davam trabalho a 70% dos imigrantes sul-americanos, segundo dados oficiais.
Os estrangeiros entrevistados na pesquisa responderam que querem sair da Espanha, mas temem crises políticas e econômicas na América Latina e só vêem bonança financeira no Brasil, onde criticam a falta de segurança pública.
Mais ainda assim estão convencidos de que se não encontrarem emprego até 2012, o caminho é o aeroporto. Estados Unidos, Brasil ou Argentina, na ordem dos mais votados.

Alta formação 

O Brasil também aparece como opção para espanhóis de alta formação.Um estudo elaborado pela consultora Adecco e pela Universidade de Navarra indica que os espanhóis com alto grau de formação e que também foram atingidos pela crise colocam o Brasil como um dos seis destinos preferidos para emigrar por emprego.
O mercado brasileiro é visto como opção para 55% dos entrevistados, junto com Alemanha, França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Argentina.
O perfil médio dos interessados em cruzar o Atlântico é de homens, entre 25 e 35 anos, com formações em engenharia, arquitetura, informática, medicina, biologia e investigação científica.
“Que engenheiro ou arquiteto não quer ir para o Brasil, de olho nas obras de infraestrutura? Está tudo por fazer, e agora há também recursos, referências de empresas espanholas já estabelecidas e a abertura ao (idioma) espanhol”, disse à BBC Brasil o professor de Economia da Universidade de Navarra Sandalio Gómez, autor do relatório apresentado em janeiro.
“Essas pessoas entendem que insistir aqui é uma perda de tempo. O Brasil cresce a uma velocidade que nenhum país da Europa pode se comparar”, concluiu.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística confirmam a tendência. Até janeiro de 2011, havia 1,8 milhão de espanhóis morando em outros países; 92.260 no Brasil, um aumento de 10.071 pessoas em um ano no território brasileiro.

Problemas 

Mas, apesar das oportunidades, o país perde para outros destinos em vários quesitos. Os entrevistados da pesquisa ressaltam insegurança, falta de serviços públicos de qualidade, instabilidade econômica e jurídica para quem quer criar um negócio próprio e a distância de seus lugares de origem como barreiras a levar em consideração.
O governo espanhol reforça estas conclusões. A diretora-geral do Departamento de Emigração, (que estuda as condições dos espanhóis em outros países), Pilar Pin, define como impedimentos as carências nos sistemas de seguro-desemprego, rede púbica de saúde e educação e a legislação trabalhista.
Em um relatório oficial apresentado em maio depois de uma visita a Brasília, Pin afirmou que o Brasil tem “enorme potencial com seus iminentes eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, além de obras para abastecimento de energia, proteção ambiental e turismo".
Apesar disso, o relatório observa: “A legislação de implantação de empresas no Brasil é restritiva demais. Nossos trabalhadores vão com licença de obra. No final do contrato encontram muitas dificuldades para estabelecer-se por conta própria”.
Mesmo assim, segundo o relatório, as autoridades brasileiras calculam que faltam 1,9 milhão de profissionais de alta qualificação. Uma lacuna que os espanhóis poderiam ocupar.

Desempregada na Espanha, boliviana investe todas as poupanças para se mudar para o Brasil

Trocar o interior da Bolívia por uma ilha no Mediterrâneo foi um desafio para Mariluz Carballo. Mas a crise acabou com os sonhos dela. Após quatro meses desempregada em Palma de Mallorca, ela está fechando as malas para rumar a São Paulo em busca de trabalho.
Sem saber o que lhe espera, seu único medo é ser discriminada no Brasil. Mariluz, de 32 anos, nascida na província boliviana de Beni, deixa para trás cinco anos na Espanha, de onde nunca saiu nesse período com medo de não poder voltar a entrar por falta de documentação.
Chegou com um trabalho garantido como faxineira num hotel de Mallorca. Com a crise, o administrador do hotel reduziu o pessoal e a solução para Mariluz foi seguir o aviso de um compatriota: “Em São Paulo tem lugar para você”.
“Eu vou com um trabalho certo, que foi o que me garantiram. Numa fábrica pequena de costura onde trabalham já três bolivianas da minha região. É bom porque pelo menos com elas posso falar espanhol (risos)... Só tenho medo de racismo. É verdade que os brasileiros são racistas com os bolivianos?”, perguntou à BBC Brasil.
O dinheiro da passagem para São Paulo era o que Mariluz guardava para uma eventual volta à Bolívia, sem data definida. Agora virou investimento, porque na Espanha gastou o que restava, sobrevivendo nos quatro meses sem trabalho.

Promessas 

“Estou apostando o que sobrou nesta ida para o Brasil. Meu futuro e do meu filho dependem disso”, conta. Mariluz é tímida e se emociona ao lembrar do filho de sete anos que mora com a avó em Beni e das promessas que lhe fez quando imigrou para a Espanha.
Desde então só o vê pela internet e diz que encontrou no Brasil uma solução para manter as promessas.
A família conta com as mesadas do exterior para os gastos de casa, escola e brinquedos para o filho.
“Eu preferia ficar aqui, porque o euro vale mais. Mas não tenho nem tempo de escolher. Como digo ao meu filho que agora a mamãe não tem trabalho e ele não vai ter mais a comida, a roupa e os brinquedos de antes?”, diz.
“A Espanha não melhora e não dá para esperar mais. É muita angústia. Estão dizendo que o Brasil agora é que está bem e eu vou já no fim do mês”, relata.

Efeito chamada 

O exemplo de Mariluz não é único. A Associação de Cooperação Bolívia-Espanha (Acobe) não tem cifras exatas, mas afirma que “existe um efeito chamada (no qual os primeiros imigrantes chamam os demais a seguir seu rumo) e isso é notório”, disse à BBC Brasil o coordenador geral da ONG, Hugo Bustillos.
A organização que registra cerca de 500 mil imigrantes bolivianos na Espanha confirma que a crise “está provocando um remanejamento dos trabalhadores para lugares onde outros compatriotas têm aberto caminhos”.
Segundo Bustillo, o Brasil é um desses lugares. O país está entre os destinos mais procurados por bolivianos junto com Argentina, Espanha e Estados Unidos.
“Estamos basicamente no ramo de pequenas fábricas de roupa em São Paulo. Há muitos bolivianos abrindo seus próprios negócios, contratando compatriotas para a costura feminina”, relata.
Outro fator é a moeda. “A diferença entre o real e o dólar é pouca e isso é praticamente uma garantia na hora do câmbio para mandar as remessas para as famílias”, explicou.
A Acobe calcula que o número de bolivianos no Brasil esteja em torno de 250 mil atualmente, a maioria no Estado de São Paulo.
Segundo a Organização Mundial para Migrações (OIM), os estrangeiros que mais migram para o Brasil são os bolivianos, os paraguaios, os peruanos, os equatorianos, os guianeses e os surinameses.

via BBC Brasil

# Ver vídeo: Espanha regista desemprego recorde e Lado positivo da crise na Espanha

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