Contágio da Grécia à Itália e Espanha precipita cimeira europeia para hoje
Altos responsáveis acertam estratégias para proteger a todo o custo Itália e Espanha do contágio da Grécia.
O súbito contágio da crise da dívida soberana à Itália, a terceira maior economia do euro, depois de uma lenta mas continuada derrapagem da Espanha nos mercados, fez soar os alarmes em Bruxelas. O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, convocou para hoje uma cimeira de emergência com o presidente da Comissão, Durão Barroso e os três ‘senhores' do euro, Jean-Claude Juncker do Eurogrupo, Jean-Claude Trichet do BCE e o comissário Olli Rehn. O encontro antecede a reunião de ministros de finanças do euro, onde se estreia Vítor Gaspar. O ministro português das Finanças vai aproveitar a oportunidade para impressionar os seus colegas com as últimas medidas do governo que decidiu complementar com mais austeridade o plano acordado com a ‘troika'.
A persistência da instabilidade nos mercados da dívida põe em evidência que, embora a Grécia, a Irlanda e Portugal representem apenas 6% do PIB da zona euro, a falta de uma solução sustentada e credível para estes países voltarem aos mercados, continuará a ameaçar outras economias do euro. Uma fonte comunitária reconheceu que os líderes vão discutir estratégias para travar o contágio mas o porta-voz de Van Rompuy, Dirk De Backer, procura desdramatizar o encontro falando de "coordenação e não de crise".
Os indicadores de risco da dívida italiana bateram recordes na passada sexta-feira desde a adesão ao euro. Os juros das obrigações a 10 anos saltaram para 5,28%, os maiores bancos italianos recuaram na bolsa, que por sua vez afundou 3,5% no fecho da sessão. Um alto quadro do BCE, citado pela Reuters, diz que "não podemos ter mais dias como sexta-feira - estamos muito preocupados com Itália". O nervosismo tem origem no reporte de tensões no governo italiano onde o primeiro-ministro Sílvio Berlusconi se parece opor ao forte plano de austeridade desenhado pelo ministro de finanças Giulio Tremonti, que por sua vez enfrenta um escândalo de conflito de interesses no seu gabinete. A percepção nos mercados é que tem sido Tremonti a deixar o país a salvo da tormenta que abana o euro, apesar de ter a segunda maior dívida da UE logo depois da Grécia.
Em Espanha também se sente uma sangria nos mercados. Há duas semanas os juros da dívida afastaram-se quase 300 pontos do referencial alemão, atingindo o nível mais alto desde 2002, e desde então não recuaram significativamente. Os receios em Espanha centram-se na incerteza com o nível de dívida das comunidades autónomas e com a saúde do sector bancário que, a dias de serem revelados os testes de stress à escala europeia, continua a digerir lentamente a famosa bolha no mercado de habitação espanhol.
Apesar das razões nacionais para este deslize de terras, o epicentro do terramoto na zona euro continua na Grécia e na falta de uma solução sustentada para o país. O segundo pacote de empréstimos à Grécia, que estará na agenda dos ministros das finanças logo à tarde, terá de incluir a participação do sector privado. Mas depois de dez meses de especulação, e um mês de intenso debate técnico, os responsáveis da banca continuam sem chegar a acordo sobre um programa voluntário de ‘rollover' de maturidades das obrigações gregas que não seja considerado um incumprimento ('default') para as agências de ‘rating'. Uma solução francesa apresentada há duas semanas falhou este teste e deixou tudo num impasse. O representante do lóbi da banca internacional (IIF), Charles Dallara, é convidado ao eurogrupo. Em Bruxelas fala-se de uma corrida contra o tempo. "Não podemos ir de férias de verão com esta indefinição nos mercados, senão arriscamo-nos a ter tudo a arder em Setembro", explicou ontem fonte comunitária, lamentando que em Berlim ou em Haia há pouca pressa para resolver o assunto agora.
publicado no Diário Económico
UE tenta blindar Itália, novo alvo da crise
Depois de Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal, a crise da dívida desembarca na Itália e líderes da União Europeia (UE) convocam para esta segunda-feira, 11, uma reunião de emergência para tentar frear o contágio. Por mais séria que tenha sido, a ameaça de um default apenas rondou a periferia da Europa. Mas agora é a terceira maior economia da zona do euro que sofre os ataques do mercado.
Durante a reunião de emergência, um segundo pacote de resgate à Grécia também será alvo das negociações convocadas de última hora. O resgate vive um impasse. Na sexta-feira, o risco país da Itália foi duramente atingido pelo mercado, que passou a apostar não apenas na quebra da periferia. As dúvidas em relação à saúde dos bancos italianos também ajudou a proliferar a tensão, a uma semana do resultado do teste de stress nas instituições financeiras da Europa. As ações do Unicredit Spa, o maior banco da Itália, desabaram quase 8%.
Nos Estados Unidos, fundos de pensão que tinham investimentos na Itália iniciaram uma corrida para vender seus ativos, aprofundando ainda mais os temores em relação à Roma.
As ameaças de um default na Grécia, Portugal e Irlanda prometiam criar um terremoto para a Europa. Mas o bloco sempre esteve convencido de que tinha como resgatar financeiramente esses países. No caso da Itália, não haveria um resgate multilateral possível que pudesse ser arrecadado para salvar Roma. Para analistas, uma quebra da Itália significaria uma falência do projeto de moeda comum do euro.
Por enquanto, nenhum líder europeu acredita que a Itália esteja sob essa ameaça real. Mas eles querem tentar matar qualquer dúvida já em seu início, antes que ela se instale e seja ainda mais difícil de dissipar.
Para isso, o presidente do Conselho da Europa, Herman Van Rompuy, decidiu convocar para hoje um encontro com a mais alta cúpula do bloco, entre eles Jean Claude Juncker, presidente da zona do euro, José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, e Olli Rehn, comissário de Finanças.
"A Europa está preocupada com o que ocorreu na sexta-feira com a Itália. Há uma percepção que não existe uma defesa montada para evitar o contágio da crise nas grandes economias do bloco", afirmou um dos negociadores envolvidos na convocação do encontro.
Divergências. Na Itália, o caos político não tem ajudado o país que já tem uma dívida superior a 120% do PIB. Para completar, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi e seu ministro de Finanças não se falam por divergências sobre como aplicar o plano de austeridade. Não por acaso, o risco país da Itália atingiu um pico recorde na semana passada.
Depois de meses de crise, a UE continua tratando a questão da dívida como um problema de liquidez, aprovando pacotes de resgate para países como Grécia e Portugal baseado na injeção de recursos. No caso da Itália, a própria UE admite que não teria nem como imaginar um pacote de resgate, diante do tamanho da economia envolvida.
Para especialistas, uma nova forma de lidar com a crise da dívida teria de ser estabelecida, baseada em uma restruturação de toda a economia.
Hoje, ministros de Finanças do bloco se reúnem para debater o segundo pacote de resgate à Grécia, de mais de US$ 110 bilhões. A Alemanha garante que está disposta a ajudar, desde que o setor privado faça sua parte e arque com parte da conta.
publicado no Estado de S.Paulo