Comunidade Guarani regressa, à força, às terras dos seus antepassados

A comunidade de índios Guarani Laranjeira Nanderu começou na semana passada a retomar as terras que durante séculos pertenceram aos seus antepassados.
Estas terras foram-lhes roubadas nos anos 60, por fazendeiros de gado. Em 2008 os Guarani já tinham tentado o regresso, mas foram novamente expulsos quando, em Setembro de 2009, a sua aldeia foi atacada e incendiada. Desde então têm vivido acampados na beira da BR-163, sem acesso a água potável, comida ou serviços médicos, sujeitos a um calor intenso e expostos às inundações sazonais.
Num acto de desespero, os Guarani arriscaram um novo regresso às terras que lhes pertencem, na tentativa de escaparem às difíceis condições em têm vivido, há quase dois anos, acampados na berma da estrada..



Um pouco antes da reocupação, Faride, o líder da comunidade, explicava assim à equipa da Survival Internacional a decisão tomada colectivamente: «Laranjeira Nanderu foi a terra do meu pai, do meu avô e bisavó… Precisamos de voltar para trabalhar, viver em paz… esse é o nosso sonho».


O drama de desapropriação destes índios vai muito além da justiça e das questões materiais porque os Guarani têm uma ligação espiritual com a sua terra. Dela dependem não apenas do ponto de vista da subsistência e do bem-estar físico, como do seu próprio equilíbrio psicológico. A dor causada pela expulsão desestabiliza-os individual e colectivamente.


Após a perda de todas as suas terras para as fazendas e plantações de gado, soja e cana de açúcar, milhares de guaranis são empurrados para reservas superlotadas ou limitam-se, como no caso da comunidade Laranjeira Nanderu, a amontoar-se nas bermas das rodovias, onde os atropelamentos constantes se somam aos demais flagelos.
A precariedade e a degradação das condições de vida têm, aliás, levado algumas lideranças Guarani a  conduzir o seu povo às reocupações. Foi essa a opção, por exemplo, de Marcos Véron, barbaramente assassinado a 13 de Janeiro de 2003 na Fazenda Brasília do Sul, no município de Juti, interior do Mato Grosso do Sul, por liderar o regresso à área reivindicada como Tekoha Takwara e, como tal, pertença da sua comunidade.

Através de associações como a Survival International, os índios Guarani Laranjeira Nanderu estão agora a pedir ao Governo brasileiro para proteger a sua terra, de modo a não ser novamente expulsa, uma vez que a sua volta já começou a gerar tensões e conflitos na região.

«Não é surpresa nenhuma que, tendo sido forçados a permanecer em condições tão precárias durante tanto tempo, os Guarani acabassem por fazer a sua própria justiça, voltando a ocupar as suas terras. Isto deverá funcionar como um alerta para as autoridades sobre a necessidade imperiosa de proteger a sua terra, evitando um novo despejo. É isto que os Guarani merecem», afirmou o director da Survival International, Stephen Corry, que acompanha o caso.


#  Relatório da situação dos Guarani, enviado no ano passado às Nações Unidas (Março de 2010): Para ler na íntegra AQUI.