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A propósito do provincianismo pacóvio dos nossos opinadores públicos

Desde ontem que colunistas, comentadores e analistas se sucedem nos media, chamados a opinar sobre o documento que está na ordem do dia: o Memorando do acordo entre a Troika e o Governo. O cortejo tem prosseguido hoje, sobretudo devido às duas conferências de imprensa que, desde de manhã, trazem o país em alvoroço.
Leio-os, escuto-os, vejo-os e percebo-os quase todos unidos sob um mesmo deslumbre: ... que categoria de documento! Assim sim: redigido como deve ser!... Mais: como nunca antes se viu, em Portugal! Veja-se bem que até traz calendarização e tudo!... Rendidos em êxtase às virtudes formais de um documento como nunca antes lhes tinha passado pelo estreito, suavizam-se as análises, resguardam-se eventuais críticas e relega-se para segundo plano a consideração do mesmo do ponto de vista do conteúdo e do escrutínio rigoroso, imparcial e lúcido do seu conteúdo.
Chega a ser caricato observar o modo extasiado com que a maioria dos colunistas, comentadores e analistas se comporta diante do Memorando, essa tamanha obra prima, verdadeira peça magistral de 35 páginas, produzida em poucas semanas pelos senhores da Troika que vieram lá de fora. Isto sim, dizem alguns, isto é que é um autêntico programa de governo. Assim sim, sublinham outros, com um exemplar destes entre mãos talvez Portugal tenha salvação.
Há pouco, num painel de telejornal organizado à hora do almoço, alguém defendia qualquer coisa como isto: descubra-se quem são estes homens e contratem-se rapidamente para redigir os programas de governo dos partidos que concorrem às eleições. Não devem ser assim tão caros, ainda é capaz de haver dinheiro para lhes encomendar o serviço e, bem vistas as coisas, a despesa representaria um bom investimento para o futuro.
Haja dó para tanto provincianismo ofuscado!!...

Posted by por AMC on 15:16. Filed under , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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