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Mulheres portuguesas no topo das que mais trabalham sem receber

Termina hoje o prazo alargado para responder aos Censos 2011 pela Internet. O Diário de Notícias traz, aliás, um artigo na edição de hoje a alertar para o facto de quem não o fizer poder ter a polícia a bater à porta, já que por Lei a resposta é obrigatória.
Independentemente dos resultados e do que ao lugar da mulher na sociedade diz respeito, não é preciso aguardar pela triagem das respostas para concluir que continua a ser de alarmante desigualdade. De acordo com um estudo da OCDE, onde se pretendeu aferir a diferenciação social entre géneros e que hoje vem divulgado na imprensa, Portugal surge em 4º lugar, numa lista de 29 países, onde o trabalho não pago é maioritariamente desempenhado por mulheres. Pior do que em Portugal só mesmo na Índia, no México e na Turquia.
Segue o artigo:


Portugal é um dos países onde há mais diferenças de género no que toca à divisão das tarefas domésticas. Em 29 países analisados, Portugal surge como o quarto onde a diferença entre mulheres e homens é maior, no que respeita a trabalho não pago.
São elas quem mais o faz. Só na Índia, no México e na Turquia é que esta diferença é maior, segundo o estudo revelado hoje pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), "Society at a Glance 2011". E, se juntarmos o trabalho pago e não pago, então Portugal é o segundo país, a seguir à Índia, onde a disparidade é maior entre homens e mulheres, sendo sempre elas quem trabalha mais.
A análise inclui pessoas dos 15 aos 64 anos de 26 países da OCDE e, ainda, da China, Índia e África do Sul. Em Portugal, existe uma diferença de 232 minutos por dia, o que significa que as mulheres passam quase quatro horas mais do que os homens em trabalho não pago. Os homens gastam, por dia, pouco mais do que uma hora e meia.
O trabalho não pago inclui o doméstico, como cozinhar, limpar e jardinagem, tratar de crianças e de outros membros ou não da família, o voluntariado e ir às compras. O que o distingue do lazer é o facto de poder ser feito por uma terceira pessoa paga para o efeito. As actividades, como jogar ténis ou ver um filme, que não podem ser feitas por uma pessoa paga, são consideradas lazer.
Em todos os países as mulheres fazem mais trabalho não pago do que os homens. Nos nórdicos a diferença é pouco mais de uma hora, mas a média ronda as 2,5 horas por dia.
Os países com a maior diferença são aqueles em que os homens dedicam relativamente pouco tempo a trabalho não pago: menos do que uma hora na Coreia, Índia, e Japão; 1,5 horas na África do Sul e menos de duas horas na Turquia, Itália, México, Portugal e Espanha.
A quantidade de tempo gasto pelos homens em trabalho não pago nem sempre é compensada pela grande quantidade de tempo gasto pelas mulheres. Na China, por exemplo, tanto homens como mulheres despendem muito pouco tempo em trabalho não pago. Na Austrália, por outro lado, os dois sexos estão no topo do trabalho não pago.
Os autores do estudo consideram positivo que, à medida que as mulheres vão sendo cada vez mais activas no mercado de trabalho pago, exista uma transferência do trabalho não pago para os homens. Ou seja, que quanto maior for a taxa de emprego das mulheres, mais repartida será a divisão do trabalho não pago.
Mas, mesmo na Noruega, país onde há maior equilíbrio neste campo, são as mulheres quem mais dedica tempo ao trabalho não pago. O mesmo vale para a Dinamarca, o país onde os homens passam mais tempo a fazer trabalho não pago.
Há, porém, países em que as mulheres fazem mais trabalho não pago mas menos pago. Os part-time são comuns na Austrália, Alemanha, Japão, Holanda e Reino Unido, onde mais de 40 por cento das mulheres trabalham desta forma.
Em países com uma relativa falta de oportunidades para trabalho em part-time , particularmente no sul da Europa, as crianças são um factor importante para as mulheres saírem do mercado de trabalho, consideram os autores do estudo. Estes países são também aqueles em que as mulheres trabalham muito mais horas no total. Portugal é o segundo país, a seguir à Índia, onde a diferença entre homens e mulheres no que toca ao total de trabalho (pago e não pago) é maior – cerca de hora e meia. Os dados dizem respeito a 1999, em que a taxa de emprego das mulheres era 52 por cento.

Portugal trabalha mais horas do que a média

Em média, e já juntando homens e mulheres, nos 29 países analisados, 3,4 horas são passadas em trabalho não pago - 14 por cento do dia. Os mexicanos são quem passa mais tempo em trabalho não pago, cerca de 4,5 horas por dia – o dobro do Japão, Coreia e China.
Em todos os países, os cuidados pessoais, como comer e dormir, ocupam a maior fatia de tempo, uma média de 46 por cento num dia. O resto é ocupado em lazer (20 por cento), trabalho ou estudo (19 por cento) e menos de um por cento vai para religião e outros usos do tempo não especificados.
Em Portugal, e segundo dados de 1999 – a variação do período de análise entre países vai de 1998 a 2009 -, 16 por cento do tempo é gasto em trabalho não pago; 20 por cento em trabalho pago ou estudo; 47 por cento em cuidados pessoais; e 16 por cento em lazer. Independentemente de ser ou não pago, as pessoas passam cerca de 1/3 do tempo a trabalhar. O tempo total de trabalho é mais baixo na Europa Ocidental e na África do Sul e mais alto no México. No Japão e no México, as pessoas trabalham respectivamente nove e 10 horas por dia. Estes dois países e Portugal são os três primeiros da lista no que toca ao tempo passado, no total, a trabalhar. Em Portugal, se somarmos o trabalho pago e o não pago, são 8,8 horas por dia. A média da OCDE é de 484 minutos (oito horas).
Na Bélgica, Dinamarca, Alemanha e África do Sul trabalham entre 7 e 7,5 horas por dia. Na maior parte dos países, o tempo passado em trabalho pago é maior do que em trabalho não pago, à excepção da Austrália e da Turquia.
Apesar de a média de tempo passado em trabalho pago parecer baixa, é preciso ter em consideração que os cálculos incluíram a semana, o fim-de-semana, as férias, os empregados e desempregados.
O trabalho pago ou estudo corresponde a profissões a tempo inteiro ou parcial, trabalho não pago em negócios de família, pausas no local de trabalho, tempo usado em educação e trabalhos de casa. Os cuidados pessoais dizem respeito a dormir, comer, beber, cuidados médicos, de higiene, idas ao médico. O lazer inclui os hobbies, ver televisão, fazer desporto, estar com amigos e família, actividades culturais. Outras formas de usar o tempo dizem, por exemplo, respeito a actividades religiosas e obrigações cívicas.

A sexta edição do estudo, feito bienalmente, inclui pela primeira vez o Chile, Estónia, Israel, e Eslovénia. Dados sobre o Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia e África do Sul também estão incluídos separadamente quando disponível.

publicado em O Público

Posted by por AMC on 12:28. Filed under , , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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