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Confirma-se: a FIFA acaba de eleger José Mourinho o 'Melhor Treinador do Mundo de 2011'

foto: Reuters

Sócrates e todos os outros, que mesmo quando nada o justifica preferem falar mal numa língua estrangeira do que bem na sua própria, deveriam aprender alguma coisa com José Mourinho. É por essas e tantas outras que acaba de ser eleito, há minutos, pela FIFA o 'Melhor Treinador do Mundo de 2010'.
No momento em que ouviu o seu nome, e antes de se dirigir ao palco suíço, o treinador português fez questão de cumprimentar, um a um, os seus actuais e antigos jogadores presentes na sala: Iker Casillas e Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, Maicon, Lúcio e Schneider, do Inter de Milão. Já com o troféu nas mãos, falou pouco. Foi breve, mas assertivo e eficaz. Começou com um pedido de desculpa que, mais do que uma justificação, foi um aviso: «Peço desculpa por falar em português, mas sou um orgulhoso português». Depois disso reconheceu que «trabalhei muito para chegar até aqui, mas não cheguei cá sozinho. Cheguei com os meus jogadores e técnicos». Agradeceu o prémio com uma menção especial «à força de todos os que me amam e com quem vou celebrar a seguir».

[ACTUALIZADA]




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Prémio FIFA 2010

Capitães deram a Bola de Ouro a José Mourinho

por Bruno Prata


O "La Gazzetta dello Sport" enganou-se em toda a linha quando, a 5 de Dezembro, garantiu que os espanhóis Del Bosque e Iniesta iriam receber a Bola de Ouro, respectivamente para treinador e jogador do ano. A gala da FIFA em Zurique serviu sim para consagrar o português José Mourinho e o argentino Messi, que não disfarçou a surpresa. No primeiro ano em que os treinadores foram premiados, Mourinho fez jus ao título de "special one".
O jornal italiano havia anteriormente antecipado com total fiabilidade a lista dos três nomeados para cada um dos dois prémios. Isso deu ainda maior credibilidade à segunda notícia. A tal ponto que Mourinho chegou a reagir com insatisfação, dizendo que se não ganhasse o troféu no ano em que se sagrou campeão europeu e venceu tudo o que havia para ganhar em Itália não sabia quando o poderia ganhar. E torceu ainda o nariz ao facto de uma boa parte dos votantes ser os seleccionadores inscritos na FIFA, facto que indiciava favorecer um Del Bosque acabado de se sagrar campeão do mundo na África do Sul.

Os troféus deste ano tinham ainda como novidade o facto de assinalarem a fusão dos prémios da FIFA com os da France Football. Desta vez, foram chamados a votar não só os 208 seleccionadores e capitães das diversas selecções, mas também os 154 jornalistas e correspondentes que a revista francesa tem espalhados por todo o mundo.

O técnico português acabou por levar a melhor sobre o seleccionador espanhol, mas por uma pequena diferença. Mourinho recolheu 35,92 por cento dos votos, enquanto Del Bosque conseguiu 33,08%. Guardiola registou apenas 8,45%. Um pormenor: Del Bosque teria ganho se só contassem os votos dos seleccionadores (teve mais 1,85% dos votos), apesar de Mourinho ter recebido o máximo dos votos possíveis de Fernando Santos, Henrique Calisto e Paulo Duarte... Mourinho levou claramente a melhor entre os capitães das selecções (mais 4,1%), confirmando-se que a relação com os jogadores está na base do seu sucesso. Entre os jornalistas, houve quase um empate (Mourinho ganhou por 0,57%). Del Bosque não votou em Mourinho; Ronaldo não votou em Del Bosque...

Mourinho não participou na conferência de imprensa que antecedeu a gala. O avião privado que levou a comitiva madridista, incluindo o director-geral Jorge Valdano (que mantém relações pouco afáveis com o português), aterrou demasiado tarde em Zurique. Quem conhece bem Mourinho, não descarta a hipótese de ele ter tentado apurar antecipadamente se iria ou não ser premiado.

O primeiro sinal de que as coisas lhe iam correr bem veio do seu ex-craque no Inter de Milão Sneijder. Quando subiu ao palco para integrar o melhor “onze”, o holandês teve o cuidado de dizer que Mourinho era “o melhor treinador do mundo”. Sentado entre Guardiola e Ronaldo, Mourinho quase chorou. E quando Silvia Neid, que arrebatou o prémio de melhor treinadora enquanto seleccionadora da Alemanha, abriu o envelope onde se anunciava que Mourinho era o mais votado, o português ergueu-se lentamente e foi primeiro cumprimentar os jogadores do Inter e do Real presentes na sala, antes de subir ao palco. “Trabalhei muito para chegar aqui, mas não chego sozinho. Chego com os meus jogadores, com os meus colaboradores, com a força dos que me amam e me esperam para celebrar este momento fantástico”, disse Mourinho, que fez questão de falar em português. Antes, tinha dado os parabéns a dois fantásticos treinadores, “o senhor Del Bosque e o Pep Guardiola”.

A cerimónia acabou por redundar num relativo fracasso para a Espanha. Falhou os principais prémios (Luiz Suárez – em 1960 – continua a ser o seu único jogador premiado) e a Marca titulou na sua edição online que “Messi deixou a Espanha sem a Bola de Ouro”. Os seis espanhóis no “onze ideal” não chegaram para atenuar a frustação.


foto: Reuters

Bola de Ouro

Mourinho: “Depois de Eusébio, Figo e Cristiano, tocou-me a mim”


José Mourinho qualificou como “histórico” o facto de ter recebido nesta segunda-feira o prémio de melhor treinador do mundo em 2010.
“É um troféu histórico para mim e para o futebol português”, disse o treinador aos jornalistas em Zurique.
“Depois de Eusébio, Figo e Cristiano, tocou-me a mim. Já somos quatro [a ganhar a Bola de Ouro]. Para um país como o nosso é motivo de satisfação”, acrescentou o técnico, explicando as razões de ter discursado em português. “Os portugueses não têm tantas alegrias assim.”
Mourinho reconheceu, por um lado, que lhe faltava este prémio, até porque “não existia”, e que é um troféu “marcante”, por ser a primeira vez que é atribuído.
Mas, por outro lado, também o desvalorizou: “Mais importante do que o troféu é ouvir palavras como as do Sneijder, Marcam mais do que troféus”, disse o treinador, referindo-se à declaração do médio holandês durante a gala (“foi um prazer trabalhar contigo. Para mim, és o melhor treinador do mundo”).
O treinador do Real Madrid fez ainda questão de salientar que “amanhã há treino e quinta-feira há jogo”: “Quem me conhece sabe que olho sempre para frente e não para trás.”
Nas declarações em Zurique, já depois de ter recebido o prémio, Mourinho defendeu ainda que o galardão é uma homenagem ao seu título europeu: “O Inter foi um bocadinho injustiçado como campeão europeu por não ter tido nenhum jogador sentado nestas três cadeiras. Sabia que para a família interista tinha algum significado que o seu treinador recebesse a Bola de Ouro”, disse Mourinho, que se despediu descrevendo o troféu que levou para casa: “É pesadinho, bonito, mas o importante é o significado dele.”
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foto: Susana Vera

Perfil

O homem que não se cansa de ganhar


por Hugo Daniel Sousa


A carreira de José Mourinho como treinador principal começou há exactamente dez anos e, ironicamente, da maneira menos ajustada para ilustrar o seu trajecto vencedor. Foi com uma derrota (1-0) no Estádio do Bessa, frente ao Boavista, que o então técnico do Benfica iniciou, a 23 de Setembro de 2000, um percurso que uma década depois inclui 17 troféus e uma marca indelével no futebol mundial. As palavras proferidas nas chegadas ao FC Porto (“Para o ano seremos campeões) e ao Chelsea (“Sou especial”) são bem mais indicadas para descrever “a mais poderosa mentalidade que o futebol gerou”, como lhe chama Manuel Sérgio, um dos seus professores.
“Defino-me como um grande treinador, com qualidade nas diferentes vertentes que constituem o trabalho de um treinador nos dias de hoje. Desde a gestão, a planificação, a metodologia e a liderança”, disse Mourinho à Lusa, a propósito desta efeméride.
Mas afinal o que é que Mourinho tem que os outros não têm? Manuel Sérgio defende que em José Mourinho “confluem todas as qualidades necessárias para se ser treinador de futebol”: “Para ser treinador não basta estudar e saber muito. É preciso ter determinadas qualidades humanas”, afirma este professor de Filosofia, resumindo as características essenciais. “Tem uma leitura do jogo incomum, sabe motivar jogadores e comunicar com eles. É um líder”, resume.
Mourinho recusa explicar em que é que inovou. “Mas, em alguns aspectos, há, seguramente, um antes e um depois de mim. O estilo de liderança, o modo de comunicar, a metodologia de treino”, afirma.
Mas está-se realmente perante um treinador inovador? Jorge Castelo, professor da Faculdade de Motricidade Humana, não tem dúvidas. “É inovador, porque tem sucesso regularmente, o que não é habitual”, aponta, não hesitando em afirmar que Mourinho é o treinador “com maior impacto no futebol mundial desde [o holandês] Rinus Michels”. Não por ter desenvolvido um sistema táctico nunca antes visto ou por ter criado uma nova forma de jogar, mas por reunir qualidades únicas e conseguir coisas que “ninguém imaginaria possíveis”.
Uma delas foi ser campeão europeu com um clube português, depois da chamada lei Bosman, que liberalizou a utilização de jogadores comunitários, dificultando a tarefa a clubes médios. Aí mesmo Jorge Castelo vê outro dos méritos de Mourinho, o de encontrar jogadores desconhecidos e transformá-los em futebolistas de primeiras linhas – a lista de exemplos é longa, de Derlei a Milito, passando por Deco.
A metodologia de Mourinho (“treinar a matriz de jogo”) consiste em elaborar exercícios que reproduzam o jogo. Não separa o treino físico, do táctico, técnico e psicológico. Tudo é trabalhado ao mesmo tempo. O método não foi inventado por ele, mas para Manuel Sérgio foi ele quem “concretizou bem essas teorias”.
Estes métodos permitiram-lhe ganhar a admiração dos jogadores, um dos grandes segredos. E a inovação passa também pela forma como consegue motivar os seus futebolistas. A lista de truques é longa: recortes nas paredes do balneário, pontapés em caixotes de roupa ao intervalo para espicaçar os jogadores, discursos inflamados, bilhetes com recados durante o jogo. E até dar indicações para o banco por SMS (como aconteceu na meia-final da Taça UEFA 2003), quando estava castigado e vigiado por um responsável da UEFA.
“Um dos jogadores de Mourinho disse-me que o melhor de trabalhar com ele é não ter pressão, porque todos os focos se concentram no treinador”, diz Jorge Castelo. Famosa é também a capacidade de antecipação de Mourinho, capaz de acertar na equipa do adversário. “Às vezes, adivinhava o resultado do jogo. Noutras contava-nos o que ia acontecer”, conta Drogba, na sua biografia.
Por tudo isto, Manuel Sérgio considera Mourinho “um génio, o maior treinador da história do futebol”. Jorge Castelo não quer endeusá-lo, mas coloca-o entre os melhores. E antevê um futuro brilhante, porque este homem “nunca se cansa de ganhar”.

Alguns inimigos de estimação
Jaime Pacheco, Manuel José, Octávio Machado, Rafael Benítez, Claudio Ranieri e Johan Cruyff não estão, certamente, na lista de admiradores de José Mourinho. Os primeiros, porque se envolveram em picardias com o “Special One”. Manuel José porque não gostou de ser trocado por Mourinho em Leiria, Jaime Pacheco também por trocas de palavras logo nos primeiros tempos e Octávio por ter sido despedido para “Mou” entrar no FC Porto. Benítez, em Inglaterra, e Ranieiri, em Itália, foram ódios de estimação de Mourinho, enquanto Cruyff nunca apreciou o estilo de jogo adoptado pelo técnico português. Jorge Valdano, director desportivo do Real Madrid, esteve entre os críticos, mas rendeu-se (ou foi obrigado a render-se) aos encantos do português. A personalidade de Mourinho atrai sentimentos fortes, de ódio ou paixão, mas em quase dez anos de carreira é difícil encontrar jogadores que critiquem o treinador português, mesmo no caso daqueles que mantiveram relações mais conturbadas com o técnico. “Tive uma relação de amor-ódio com Mourinho”, confessou recentemente Balotelli, ex-avançado do Inter. E, mesmo tendo Mourinho saído quase sempre a “mal” dos clubes por onde passou (FC Porto, Chelsea e Inter, em certa medida), a relação com os presidentes não é tão má como seria de esperar. Um exemplo? “Vi-o como um homem que trai a sua mulher, mas que, no fundo, ainda a ama, e por isso sai pela janela porque não tem coragem de lhe dizer que foi uma aventura”, afirmou Massimo Moratti, presidente do Inter ao canal televisivo 7Gold. “[Mas] Não vejo a saída dele como uma traição, nem me sinto traído”, acrescentou o dirigente, defendendo que o treinador “desenvolveu laços afectivos com o Inter”.

* texto originalmente publicado na edição de 23/09/2010 de
O Público


Cf. também:

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