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"Os dois lados de Cancún"

por Virgilio Viana*

O primeiro foi a Conferência das Partes (COP), que tratou das negociações sobre o futuro da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Este é o evento anual e “oficial” da Convenção. Os resultados foram tímidos diante da urgência e gravidade do problema. Nenhuma surpresa positiva, infelizmente.
O outro evento poderia ser chamado de “Conferência Global sobre Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável”. Foram centenas de congressos, simpósios, oficinas e reuniões de trabalho, realizados nos excelentes centros de convenção e hotéis espalhados por toda Cancún. Formalmente, estes são conhecidos como “eventos paralelos” da COP.
Ao contrário do evento oficial, os paralelos foram um enorme sucesso. Nestes pode-se observar o dinamismo e o potencial inovador de governos nacionais e sub-nacionais (estados e municípios), empresas, movimentos sociais, ONGs, instituições de pesquisa e líderes independentes. Foram apresentadas inovações tecnológicas de todos os tipos, por empresas e pesquisadores. Lideranças locais, regionais e globais debateram temas complexos, com a profundidade necessária e sem as amarras dos formalismos das negociações oficiais. Foram relatadas experiências inovadoras, tanto por governos quanto por empresas e ONGs.
Notícias boas vieram de lugares como a Indonésia, que lançou uma ambiciosa iniciativa de redução do desmatamento e mudança do seu paradigma de desenvolvimento no rumo de uma economia verde. Sistemas de certificação de florestas tiveram grandes avanços e superaram problemas metodológicos estratégicos. Grandes empresas globais aderiram a pactos setoriais para rastrear seus fornecedores e diminuir suas pegadas de carbono. ONGs apresentaram soluções inovadoras para combinar redução da pobreza com a conservação da natureza. Investidores mostraram-se mais abertos a apostar em negócios verdes. Agências multilaterais começaram a mostrar alguns resultados animadores. Parcerias sul-sul se tornaram uma nova fonte de esperança e otimismo. Novas alianças e parcerias vêm quebrando paradigmas, sectarismos e velhos preconceitos. Existe uma nova concertacion global em curso.
A mensagem dos eventos paralelos é de que foi tomada a decisão de agir já, apesar dos resultados das negociações oficiais das últimas COP terem sido desanimadores. Talvez este desânimo com o processo oficial tenha se convertido em ânimo para aqueles que são mais vulneráveis ao sentimento de urgência dos problemas climático, social e ambiental; à pressão da sociedade civil e que possuem maior capacidade de vislumbrar oportunidades econômicas.
De agora em diante, devemos prestar mais atenção aos resultados da “Conferência Global sobre Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável”. As próximas serão na África do Sul, no final de 2011, e no Rio de Janeiro, em 2012. Serão oportunidades estratégicas para o Brasil demonstrar liderança por ações práticas, ousadas e inovadoras rumo a uma economia verde.

* Virgilio Viana é Engenheiro Florestal pela ESALQ, Ph.D. pela Universidade de Harvard, ex-Secretário de Meio Ambiente de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas e Superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável.
(via Envolverde/Fundação Amazonas Sustentável)

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