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"Lula é Brasleiro"

por João Rodrigues:

Dizem que Deus é brasileiro; Lula, claro, também é: deixa a presidência com o apoio de quase 80% dos brasileiros, abrindo assim caminho à confortável eleição da sua camarada Dilma Rousseff. Isto apesar da hostilidade dos media. É a economia, estúpido! Que economia? A que se tornou um pouco menos desigual graças à acção dos poderes públicos. Um país que forjou, além disso, uma política externa independente, visível nas alianças com os seus progressistas vizinhos e na forma como recusou as pretensões dos EUA, que queriam transformar o continente numa imensa "zona de comércio livre", num imenso México.
Os factos, esses, são impressionantes: 14 milhões de postos de trabalho criados no sector formal; redução do número de pobres, que passaram de 77,8 milhões (42,7% da população) para 53,7 milhões (28,8%); ou redução de 62% na desnutrição infantil. Tudo entre 2003 e 2008. É o que dá expandir decisivamente as políticas sociais, como o programa Bolsa Família, uma espécie de rendimento mínimo garantido que beneficia um cidadão brasileiro em cada cinco, ou aumentar o poder de compra do salário mínimo mais de 50%.
De facto, a expansão do mercado interno, graças ao assinalável crescimento do rendimento das classes populares, é uma das heranças de Lula e explica o relativo sucesso económico e a resistência à crise, sobretudo quando comparamos com os mandatos retintamente neoliberais de Fernando Henrique Cardoso: o crescimento cumulativo do Produto Interno Bruto (PIB) atingiu cerca de 23% entre 2003 e 2010, contra 3,5% nos anos do anterior presidente. Rompe-se assim com as décadas perdidas do neoliberalismo à FMI, quando o PIB cresceu cumulativamente, entre 1980 e 2000, apenas 4%, mas ainda estamos longe dos níveis de crescimento das décadas de políticas desenvolvimentistas do pós-guerra.
Hoje, o Brasil tem a vantagem de não ter um PEC, como nós, mas sim um PAC - Plano de Aceleração do Crescimento -, assente na modernização das infra-estruturas do país e numa certa recuperação da tradição desenvolvimentista, que impediu novas privatizações e deu um novo impulso ao papel do Estado, visível, por exemplo, nas regras de exploração dos novos recursos petrolíferos do país.
No entanto, Dilma tem de fazer rupturas se quiser aprofundar as transformações progressistas: da excessiva dependência do agronegócio, que impediu uma reforma agrária digna desse nome, à infeliz manutenção das estruturas de uma economia ainda financeirizada e rentista, graças às elevadas taxas de juro e a um real sobrevalorizado, passando pela corrupção que mina a confiança nos poderes públicos. No entanto, pode dizer--se que o "escândalo do mensalão" até facilitou o actual sucesso político ao levar, entre outros, à demissão do "conservador" ministro da "fazenda", substituído pelo excelente economista Guido Mantega, e ao dar um novo protagonismo a Dilma. Esta só depende agora da capacidade de mobilização do povo. É que Deus pode ser brasileiro, mas é a "mão invisível do povo", a que Lula aludiu um dia, que em última instância faz a diferença.

Posted by por AMC on 11:40. Filed under , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

1 comentários for ""Lula é Brasleiro""

  1. Oi, anjo!

    Penso que tu gostarás disto:
    O livro com o poema ‘VIDA: Já perdoei erros quase imperdoáveis’ já está nas livrarias de Portugal. É um livro lindo e ilustrado!

    Estou a deixar o link do vídeo do livro no You Tube para que tu espreites também. Está muito bonito.

    http://www.youtube.com/watch?v=UmgROzFwzcA

    - Beijinhos...

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