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«Os grunhos»

por Rui Herbon

Noticiou o JN que Rui Rio e os seis vereadores do PSD/PP na Câmara do Porto votaram contra a atribuição do nome de José Saramago a uma rua da cidade. Já antes, numa outra proposta, que visava o reconhecimento do contributo do escritor para a divulgação e o prestígio de Portugal e a apresentação de condolências à família, o presidente e cinco vereadores de maioria abstiveram-se, e Manuel Sampaio Pimentel, do PP, votou contra. A CDU e o PS votaram favoravelmente. Vale a pena gastar algum tempo com estes faits divers do poder local portuense pelo que eles revelam de persistência daquela mentalidade arcaica, trauliteira e intolerante que fez de Portugal uma país atrasado e culturalmente subdesenvolvido. O procedimento destes agentes da política traduz, também, um ódio à cultura e à criação literária que radica em pressupostos de cariz ideológico provinciano. Uma cidade com a grandeza do Porto, de tão profundos sentimentos liberais, que tem na génese valores culturais, que se revê em tantos dos seus criadores (na literatura, na pintura, na música, na arquitectura), não merecia o analfabetismo destas criaturas que, certamente por desatenção colectiva, se sentam nas cadeiras do poder municipal e aí extravasam a sua boçalidade. Contra a biografia criadora de Saramago, nada podem. Ele viverá sempre nas suas obras porque, goste-se ou não (e eu milito no não), estas têm hoje um sentido universal. O senhor Rio e a irmandade do PSD/PP apenas merecem a célebre resposta de Schiller: «contra a estupidez até os deuses lutam em vão».

Posted by por AMC on 14:28. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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