Ministério da Cultura "satisfeito" com o pedido de demissão do director-geral das Artes
Demitiu-se o director-geral das Artes, Jorge Barreto Xavier. Hoje, o Ministério da Cultura confirma que aceitou o pedido «com grande satisfação», nos termos do seguinte comunicado:
A Ministra da Cultura confirma o pedido de demissão do Director-Geral das Artes.
O Ministério da Cultura manifesta a sua grande satisfação por esta decisão, que vem permitir finalmente que a DGArtes se liberte de constrangimentos vários que têm vindo a dificultar a sua acção. Os sucessivos atrasos nos concursos, a barreira construída entre o Gabinete da Ministra e os agentes culturais, a ineficácia dos procedimentos, são factores que se devem às dificuldades demonstradas pelo Director-Geral para o exercício do cargo.
Nenhum dos projectos em curso da DGArtes, nomeadamente o programa de sucesso INOV-Art (bolsas internacionais), se deve à sua iniciativa. A sua intervenção tem sido meramente de aplicação de medidas do Governo, muitas das quais com recurso a contratação externa, por ineficácia da sua liderança na Direcção Geral.
Desde Fevereiro passado que o demissionário procurava outra colocação, tendo demonstrado desde essa altura vontade de se desligar da DGArtes, não se encontrando, portanto, em circunstâncias de enfrentar as dificuldades exigidas numa situação circunstancial excepcional.
O Ministério da Cultura não procedeu à sua substituição devido à vontade de manter um mínimo de estabilidade no sector mas, face à sua demissão, encontra-se agora, finalmente, em condições de alavancar o sector com outra ambição e responsabilidade.
O Ministério da Cultura já tem substituto, que anunciará em breve, e garante a todos os agentes culturais com projectos de financiamento em curso que não haverá quaisquer consequências, atrasos ou prejuízos de procedimentos, decorrentes desta substituição.
fonte: Ministério da Cultura
E escreve o Sérgio Lavos:
A demissão de um director-geral, cargo cujo ocupante é directamente apontado pelo Ministério, aplaudida tão efusivamente – os termos do comunicado são “grande satisfação”, “liderança ineficaz”, “ineficácia dos procedimentos” – pelo gabinete da ministra, mostra que o desnorte é cada vez maior. Se o director-geral das Artes era tão assim tão incompetente, a ponto de ter erguido “uma barreira entre o Gabinete da ministra e os agentes culturais”, por que razão não foi afastado do cargo antes? O comunicado é um primor de má educação, é verdade, mas revela sobretudo uma gestão enviesada da questão, dado que já em Fevereiro passado Jorge Barreto Xavier tinha tentado demitir-se, sem êxito. Aguardemos os próximos episódios, mas o caminho seguido por Gabriela Canavilhas, até agora, não parece muito diferente do dos seus antecessores. Com cortes, contestação e desinvestimento à mistura, o melodrama de sempre na Cultura.
