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Selecções e selecionados


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Assisto de camarote à derrota de Portugal que faz regressar a casa a Selecção dos Navegadores à Copa do Mundo na África do Sul. Assisto sem surpresa e também sem pesar. É estranho, mas é assim. Tal e qual assim. Porque para haver desilusão é preciso que alguma vez tenha existido crença e esperança. Não era o caso. Quando soa o apito, no fim da partida, a única coisa que verdadeiramente lamento no golo da Espanha é o facto de ter entrado na baliza de Eduardo, o único guarda-redes inviolável da Copa, até ao momento. Levava apenas 3 golos sofridos, contando com os jogos de apuração. Com o de hoje, o único que não conseguiu travar na África do Sul, passaram a quatro, menos (incomparavelmente menos, do que as providenciais defesas que fez só no jogo desta noite, por exemplo). A única coisa que me custou, confesso, foram as imagens da tristeza do guarda-redes português, aqueles instantes de solidão absoluta explorados avidamente pelas câmaras de televisão e que mereciam, pela excelente prestação de Eduardo, ser resguardados na intimidade do momento. A única coisa que me custou foi ver Eduardo caído de joelhos no relvado, a chorar copiosamente, a esconder as lágrimas e o rosto com as mãos, logo ele, o melhor de todos os jogadores em campo, um dos poucos (tão poucos!) que podia abandonar o estádio de cabeça erguida sem lamentar que a derrota lhe fizesse perder também a face.
No mais, como já reconheci, não foi grande o pesar ou a surpresa. A Espanha deu show e merecia indiscutivelmente passar a eliminatória. Teria sido injusto se assim não fosse e acontece que quem gosta de futebol prefere que a justiça seja feita, não à cor da camisola, mas ao mérito em campo.
E, por muito que jogar pressuponha vencer, não consigo evitar que me venha à ideia a célebre Selecção Portuguesa de 1966, de Eusébio e dos Magriços. Perderam mas fizeram história e nunca mais ninguém os esqueceu. Nem tinha nascido para guardar memória da prestação dos Magriços. Todavia, cresci a escutar a paixão com que era lembrada e evocada. Ainda hoje o é. Tal como acontece em relação àquela mítica Selecção Brasileira de1982. Dessa sim, já posso falar com propriedade porque, apesar de ser pequena, recordo perfeitamente o entusiasmo com que arrebatava, apaixonava e fazia vibrar. A jogar Subbuteo todos queríamos que a nossa equipa fosse a azul e amarelo do Brasil e na escola todos éramos um dos onze-base de Tele Santana: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior, Cerezzo, Falcão, Sócrates, Zico, Serginho e Eder.
Em verdade, nenhuma destas Selecções levantou a taça mas qualquer uma delas ganhou a eternidade sem precisar da vitória. Podia apostar que, hoje, nos lembramos melhor delas apesar de terem sido eliminadas do que das equipas que nesses mesmos anos levaram a melhor no campeonato. Algo que jamais sucederia aos Navegadores portugueses de 2010, como no fundo já todos sabíamos antes sequer de se começar a jogar na África do Sul. Quer ganhassem, quer perdessem. Mais que a possibilidade da derrota era espectável que não ficassem para a História na nossa memória. Confirmou-se. Não pelo facto de (ele há ironias!) o único golo que sofreram em toda a Copa lhes ter custado a eliminação. Mas por se terem qualificado para o campeonato sem nunca se terem chegado verdadeiramente a qualificar como equipa.

Posted by por AMC on 22:36. Filed under , , , , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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